A corrida pelos playoffs da NFL segue imprevisível, marcada por reviravoltas, lesões, apostas arriscadas e quarterbacks em diferentes fases da carreira, onde favoritos nem sempre se confirmam e azarões surpreendem — mostrando que, na liga mais imprevisível do mundo, todos têm chance, mas ninguém tem certeza.
Por mais que o torcedor use a máxima “setembro nunca chega” para acalentar sua saudade da NFL, é preciso lembrar que a distância do referido mês para janeiro é bem curta. E quando o ano muda, só segue jogando quem consegue aquilo que todos almejam: uma ida aos playoffs da liga.
Num esporte que não tem diferentes torneios como os demais, chegar na pós-temporada é por vezes quase um título. Uma sequência de anos jogando as partidas eliminatórias dão a sensação de estar no caminho certo e mesmo sem vencer o Super Bowl, faz com que empregos sejam salvos, em especial de treinadores.
Contudo, nem sempre é fácil estar lá no ano seguinte a um playoff: nos últimos quatro anos – período que contempla o aumento de seis para sete times por conferência -, cerca de 42% dos times na pós-temporada foram equipes que na temporada anterior caíram na primeira fase.
Quarterback é presente e não passado
É incrível como o nome de Aaron Rodgers desperta interesse: tudo em torno do quarterback é grandioso e tem impacto. Entretanto, é preciso entender que em campo as coisas já não são mais como eram e a idade chegou: a última vez que vimos Rodgers jogar realmente bem foi no já longínquo 2021. Quer prova disso? Mesmo com sua ida para o Pittsburgh Steelers, a cotação do time segue desfavorável: uma ida para os playoffs tem odds de 2.40 nas principais casas de apostas do mercado brasileiro, mesmo com Pittsburgh tendo um histórico de 4 idas nos últimos 5 anos.
Agora, quando você tem um quarterback poderoso, jogando em alto nível, as coisas mudam de figura: basta olharmos para o Cincinnati Bengals. Joe Burrow liderou a liga em jardas e passes para touchdowns, mas a equipe não reforçou a defesa – a pior de 2024 – e ainda pode perder Trey Hendrickson, o seu único bom jogador defensivo. Mesmo assim, a cotação para o time se classificar é de 1.66, mostrando confiança na capacidade deste ataque.
Porém, é preciso ser franco: se além de um grande quarterback, seu time for equilibrado, as coisas melhoram. Dentro da própria AFC North, o Baltimore Ravens é um exemplo disso. Com um dos melhores elencos da liga e Lamar Jackson comandando o ataque, é muito candidato aos playoffs, com odds de 1.18 para se classificar, além de ser um dos favoritos a vencer o Super Bowl LX.
Outra máxima que a divisão prova é que quantidade é diferente de qualidade. Basta olhar para o Cleveland Browns, com 5 quarterback em seu elenco: como nenhum deles é confiável, o time tem poucas chances de ser competitivo: as casas de apostas pagam 9.50 para uma ida dos Browns a pós-temporada.
Baltimore Ravens | Cincinnati Bengals | Pittsburgh Steelers | Cleveland Browns |
Tem lugar que é dureza
Não é fácil lidar com uma divisão que mandou três times para os playoffs no ano passado. Vejam o Chicago Bears: contratou Ben Johnson, o nome mais quente entre todos os candidatos a head coach, e fez um bom Draft. Mesmo assim, o time é visto com desconfiança para ir aos playoffs.
O motivo é o nível dos adversários. O Detroit Lions encantou a liga nas duas últimas temporadas e vem de um ano de 15 vitórias, o que o credencia a ser um time que dificilmente ficará de fora em janeiro, algo que se reflete na cotação de 1.40. Já o Green Bay Packers esteve de fora apenas uma vez nos sete anos sob o comando de Matt LaFleur e essa solidez justifica o otimismo, mesmo sendo um time sem grandes estrelas.
Já o Minnesota Vikings é um caso curioso: mesmo tendo vencido 14 jogos na temporada de 2024 e não ter perdido quase ninguém, as odds para se classificar ou ficar de fora são iguais. O motivo? J.J. McCarthy será o quarterback titular e ele não jogou em seu ano de calouro por conta de uma lesão, gerando incerteza sobre os rumos da equipe.
AFC East tem cenário bem claro
Durante quase vinte anos, os demais times da AFC East viram o New England Patriots dominar a divisão com Tom Brady e Bill Belichick, estabelecendo larga distância de seus oponentes: de 2001 até sua saída em 2019, apenas duas vezes o time de Foxboro não foi para os playoffs, sendo que em uma delas o camisa 12 estava machucado.
Para tristeza de New York Jets e Miami Dolphins, não deu nem tempo de respirar e um novo titã apareceu: o Buffalo Bills, com Josh Allen dominando tudo. Desde 2020, os Bills venceram todos os anos a divisão, com pelo menos 11 vitórias em cada ano. Para a próxima temporada, só uma catástrofe – leia, uma lesão de Josh Allen – tiraria Buffalo dos jogos decisivos: as casas de apostam pagam 1.12 para uma ida e 6.00 (maiores odds de toda NFL) para um fracasso que faria os comandados de Sean McDermott ver a fase final pelo sofá.
Os rivais? Nenhum tem cotação positiva. Todavia, mesmo entre eles existem camadas. Os Patriots, que contrataram Mike Vrabel como seu treinador e tem diversos reforços, podem ser encarados com mais otimismo que seus oponentes: enquanto as casas pagam 2.40 para New England, os números para Dolphins, 3.25, e Jets, 5.75, são bem piores.
O desagradável efeito Jerry Jones
Estar numa divisão que tem os dois finalistas da NFC do último ano já é complicado por si só: Philadelphia Eagles e Washington Commanders mostram bases muito sólidas, que se refletem em suas odds para os playoffs: os dois times tem odds baixas para se classificarem, denotando confiança que sigam desempenhando bem.
Entretanto, do outro lado, o Dallas Cowboys não passa a mesma confiança: nas casas de apostas, sua cotação é de 2.65 para ir aos playoffs e de apenas 1.45 para ficar fora. O time é ruim? Longe disso. Contudo, Jerry Jones ainda não conseguiu acertar um contrato com Micah Parsons, que segue fazendo greve e diz que não entrará em campo antes de receber um novo acordo que o torne o não-QB mais bem pago da NFL. Brian Schottenheimer é o novo treinador e seu currículo também não empolga, fazendo com que o ceticismo em relação aos Cowboys aumente.
Ah, antes que eu esqueça, ninguém acredita muito no New York Giants, que tem uma cotação de 8 para 1 caso vá aos playoffs…ninguém mandou contratar Russell Wilson em 2025 né?
Confiança em baixa
Deve ser duro torcer para o Indianapolis Colts na era pós-Andrew Luck: o time não consegue encontrar um quarterback e por mais que tenha um bom elenco ao seu redor, não inspira confiança. Não dá para reclamar do prognóstico ser negativo para uma classificação quando o nome que vai estar atrás do center é Anthony Richardson ou Daniel Jones, dois conhecidos espalhadores de farofa.
No entanto, quarterbacks badalados nem sempre entregam o que se espera: basta ver Trevor Lawrence, que chegou quatro anos atrás com a promessa de ser um dos maiores da liga e até agora teve mais momentos ruins que bons no Jacksonville Jaguars. Mesmo com reforços do calibre de Travis Hunter, a desconfiança em torno de “Sunshine” segue: as odds para uma classificação são de 2.55.
O único time da divisão que inspira confiança e é visto com bons olhos é o Houston Texans, que venceu uma partida de pós-temporada em cada um dos dois últimos anos. Além do fator C.J. Stroud, o fato de ter uma defesa top-5 da liga, com nomes como Derek Stingley e Will Anderson Jr. impacta e torna a equipe de DeMeco Ryans séria candidata.
Já o Tennessee Titans é daquelas equipes que olha para o ano como um passo na reconstrução, tentando estabelecer o calouro Cam Ward como seu titular e nada mais: qualquer coisa, além disso, seria um baita lucro.
Houston Texans | Jacksonville Jaguars | Indianapolis Colts | Tennesse Titans |
Solidez reconhecida
Quando um nome como Tom Brady se aposenta, tudo que se espera é terra arrasada no time que ele deixa, certo? Pois bem, o Tampa Bay Buccaneers não só contrariou essa máxima, como ainda venceu a divisão duas vezes, estabeleceu Baker Mayfield novamente como seu titular e é a única equipe da divisão cotada para os playoffs nas casas de apostas.
Não que exista uma grande diferença de elenco para seus dois principais concorrentes, mas a incógnita na posição de quarterback pega para Atlanta Falcons e Carolina Panthers. Enquanto os Falcons tem Michael Penix Jr., com um currículo de apenas três partidas, os Panthers precisarão que Bryce Young jogue a temporada toda como no fim de 2024: após ir para o banco, ele deu uma ressuscitada em sua carreira e espera finalmente se estabelecer como o dono da titularidade em Carolina.
Enquanto isso, o New Orleans Saints tem poucas aspirações: com um elenco envelhecido, mas como Kellen Moore comandando a equipe, o processo de reconstrução deve ser recomeçado.
Dúvidas, dúvidas e mais dúvidas
Não deixa de ser curioso olhar para NFC West e ver que o San Francisco 49ers tem odds mais baixas para ir aos playoffs que o Los Angeles Rams. Sim, o calendário dos 49ers é na teoria um dos mais tranquilos da liga, mas as lesões já começaram a assolar o elenco – em especial no grupo de wide receivers – e isso gera apreensão. Por outro lado, os Rams estão lidando com Matthew Stafford sem treinar ainda no training camp: o veterano quarterback enfrenta uma hérnia de disco e preocupa para temporada regular.
Sendo assim, os azarões podem ganhar espaço, jogos e consequentemente uma vaga nos playoffs, por mais que a expectativa inicial não seja essa. O Seattle Seahawks tem uma defesa que cresceu muito de produção na segunda metade de 2024 e se Sam Darnold mantiver o nível de jogo que teve no Minnesota Vikings, o time é competitivo.
Já o Arizona Cardinals reforçou muito a defesa, escolhendo cinco jogadores para unidade no Draft. Entretanto, o grande problema é a performance de Kyler Murray na parte final da temporada regular. Ano passado, ele caiu muito de produção e fez jogos terríveis, que acabaram custando a classificação. Inclusive, o quarterback começa a temporada com uma pressão extra nos ombros por conta de sua inefetividade nos meses de novembro e janeiro.
San Francisco 49ers | Los Angeles Rams | Arizona Cardinals | Seattle Seahawks |
Os tempos são outros
Tal qual a AFC East, a divisão oeste da conferência também tem um dono dominante: desde 2016 o Kansas City Chiefs vence todos os anos, é favorito novamente na próxima temporada e me arrisco a dizer que apenas uma tragédia faria com que Patrick Mahomes e seus amigos não estivessem jogando janeiro: o time é forte demais para sequer pensar em ficar de fora.
Porém, em tempos recentes, era difícil olhar com bons olhos para os concorrentes. Isso mudou: tanto Los Angeles Chargers quanto Denver Broncos estiveram nos playoffs em 2024 e são candidatos ao feito novamente. Com defesas fortes, que se colocam entre as melhores da NFL, não é difícil imaginar que os ataques liderados por Justin Herbert e Bo Nix sejam sólidos o suficiente para levar suas equipes até os jogos eliminatórios mais uma vez.
O patinho feio da divisão é o Las Vegas Raiders, mas a desconfiança parece excessiva: as odds de 4.20 para se classificar são um exagero. Pete Carroll é um treinador renomado e que sabe trabalhar com grupos menos badalados. Vale lembrar que Brock Bowers bateu diversos recordes de um tight end calouro e o time adicionou Ashton Jeanty, calouro capaz de se tornar um corredor estelar rapidamente.
No fim das contas, a grande verdade sobre a NFL é que nada é previsível. A cada temporada, equipes que pareciam fadadas ao fracasso surpreendem, enquanto candidatos ao título desmoronam diante da pressão. Lesões, desempenhos inesperados, escolhas de calouros e até decisões questionáveis de treinadores moldam destinos em questão de semanas.
O que hoje parece óbvio pode se transformar em frustração amanhã, e aquilo que parecia impossível ganha vida com uma arrancada improvável. É justamente essa imprevisibilidade que mantém a liga fascinante: ninguém tem garantias, mas todos têm chances. E é isso que faz a NFL ser a maior máquina de histórias do esporte mundial.