Mesmo com a derrota no último Super Bowl e desconfiança pairando sobre o elenco, o Kansas City Chiefs chega para a próxima temporada da NFL como um dos principais candidatos ao título de acordo com a análise das casas de apostas.
Contudo, quem tem Patrick Mahomes e Andy Reid está sempre pronto a quebrar recordes e fazer o improvável acontecer. Essa é a missão do Kansas City Chiefs para 2025: provar que pode não só chegar, mas também vencer o Super Bowl, mesmo após a acachapante derrota para o Philadelphia Eagles no Super Bowl LIX. O placar de 40 x 22 não representou o que foi o jogo, já que os Eagles controlaram desde o início e abriram mão na parte final. Se tivessem mantido o pé no fundo, o estrago seria ainda maior.
Será apenas a segunda vez desde 2020 que os Chiefs não começam o ano como favoritos ao Super Bowl nas apostas esportivas. A manutenção do elenco dos Eagles faz com que eles cheguem como os maiores candidatos: o título de Philadelphia tem odds de 7.50, enquanto os Chiefs têm cotação de 8.00, empatados com Baltimore Ravens e Buffalo Bills. Fechando o top-5, está o Detroit Lions — que perdeu seus dois coordenadores, algo similar aos Eagles de 2023 —, pagando 9.00.
Philadelphia Eagles | Kansas City Chiefs | Buffalo Bills | Baltimore Ravens | Detroit Lions |
Claro que estar dentro do top-5 ainda mostra que o time é muito forte. Todavia, ao olhar para trás, vemos que Kansas City fraquejou justamente no ano seguinte a perder no Super Bowl LV, numa atuação semelhante à vista em fevereiro deste ano. Em 2021, logo após o citado jogo, o time não bateu a sua linha de vitórias: a marca era de 12,5 e a equipe parou em 12, depois de um duro começo de temporada: ao fim da semana 7, os Chiefs tinham 3 vitórias e 4 derrotas, sofrendo uma média de 29 pontos por jogo.
Voltemos para 2025 e analisemos a linha de Kansas City, que é de 11,5 vitórias. O curioso? O valor para o time ultrapassar é maior (1,95) do que para não conseguir (1,80). Por mais que o retrospecto pese a favor de Mahomes — em 5 de suas 7 temporadas o time bateu a linha de vitórias estabelecidas —, é um ponto de desconfiança em torno do elenco.
Um dos fatores que contribui para que essa linha seja mais baixa que o atual é a projeção pessimista do calendário. Todos os times que foram às finais de conferência em 2024 — além do próprio — estão na agenda dos Chiefs. Já na segunda semana, após voltarem do jogo que terão em São Paulo na estreia, os comandados de Reid terão a reedição do Super Bowl. Jogando em casa, Kansas City é visto como favorito para este embate, apesar das odds equilibradas: a vitória dos Chiefs tem odds de 1.82, enquanto Philadelphia tem odds de 1.95.
É preciso também olhar para dentro da AFC West e notar que o favoritismo segue, mas já não é acachapante como nos anos anteriores. A divisão agora é lotada de times treinados por treinadores renomados e isso traz equilíbrio. Me digam que outra tem treinadores do calibre de Sean Payton, Jim Harbaugh e Pete Carroll? Tirando nosso “Leôncio” da equação, são 4 idas ao Super Bowl, 2 títulos, 2 prêmios de treinador do ano e 2 títulos nacionais do college football. Currículo para ninguém colocar defeito.
Por mais que a equipe ainda esteja no topo das cotações para vencer a divisão, com odds de 1.90, o embate promete ser mais duro: Los Angeles Chargers tem odds de 3.95, Denver Broncos com cotação de 4.50, enquanto o Las Vegas Raiders ainda desponta como azarão, pagando 15.00, de acordo com as principais casas de apostas do Brasil.
Kansas City Chiefs | Los Angeles Chargers | Denver Broncos | Las Vegas Raiders |
Falando em confronto divisional, vale lembrar que os Chiefs abrem a temporada com um, diante dos Chargers em… São Paulo. Pelo segundo ano consecutivo, a capital paulista receberá um jogo da semana 1 e dessa vez ele será de arrepiar. Apesar do retrospecto recente favorecer os Chiefs — 18 vitórias nos últimos 21 jogos, sendo as 6 últimas consecutivamente —, alguns números merecem ser olhados com carinho.
Los Angeles vem como azarão, pagando 2,20 para uma vitória. Entretanto, se olharmos para os dois jogos entre os times em 2024, veremos que o equilíbrio foi a tônica: os triunfos dos Chiefs vieram por 7 e 2 pontos, ou seja, apenas uma posse de bola. Na semana 4, Kansas City chegou a estar perdendo por 10 pontos e virou faltando apenas 6 minutos para o fim. A partida da semana 14 foi ainda mais dura, sendo vencida com um field goal no estouro do relógio, após campanha conduzida por Mahomes.
Vale também ficar de olho nas otimistas projeções para pontos totais neste confronto: a linha é de 44,5 pontos, o que parece pensar numa explosão ofensiva maior que a vista nos últimos 3 confrontos dos times. Quando voltamos neste último lastro recente, temos uma média de 29 pontos combinados nos confrontos, com nenhum time tendo chegado sequer à casa de 20.
Fica também o alerta: por mais que pareça tentador apostar em Isiah Pacheco anotando um touchdown a qualquer momento com odds de 2.20, ela pode ser uma grande armadilha. A defesa de Los Angeles foi a que menos cedeu touchdowns pelo chão em 2024, fazendo um grande trabalho na red zone. Além disso, Pacheco anotou apenas uma vez em 4 confrontos entre as franquias e vem de uma temporada em que se lesionou algumas vezes. Com as chegadas de Elijah Mitchell (ex-San Francisco 49ers) e Brashard Smith (selecionado no Draft), seu tempo de campo pode cair ainda mais.
Devagar com a desconfiança
Comecemos com a linha de jardas passadas, que está na casa de 4000. Não, Mahomes não atingiu esse número no ano que se passou, mas não é como se tivesse ficado muito longe: foram 3928, apenas 72 abaixo. Vale ressaltar que ele não jogou na última semana diante do Denver Broncos, já que os Chiefs tinham 15 vitórias e o seed 1 da AFC garantido. Considerando que esse ano a linha de vitórias do time é mais baixa, como já visto, e o calendário duro, a linha está no mínimo dentro da normalidade.
No entanto, os números nunca contam toda a história. É preciso dar contexto para as 3928 jardas de Mahomes em 2024. O primeiro é que ele atuou com uma linha pobre, com diversos problemas na proteção, o que fez com que o tempo para ler o fundo de campo fosse reduzido. Não por acaso, apenas 9,7% de seus passes viajaram mais de 20 jardas no ar, menor marca entre os quarterbacks titulares segundo o ProFootball Focus.
Essa pressão veio em grande parte cedida pelo left tackle, responsável por proteger o lado cego do quarterback. Foram 36% de pressões originadas ali, maior marca da liga segundo o PFF. Com diversos nomes passando pela função sem se firmar, os Chiefs não hesitaram em selecionar já na primeira rodada do Draft um reforço para a posição: Josh Simmons, campeão nacional universitário por Ohio State.
Outro problema foi o corpo de recebedores, que já era esvaziado naturalmente, mas que sofreu um grande baque com a lesão de Rashee Rice após a semana 3. Enquanto esteve em campo, o wide receiver teve 288 jardas recebidas, segundo melhor número entre jogadores de sua posição. Foram 24 recepções no período, melhor marca da liga, mostrando sua conexão com o camisa 15.
Ele deve estar pronto para jogar na semana 1, bem como Marquise Brown, que perdeu boa parte do ano passado. Some isso a um Xavier Worthy indo para seu segundo ano após ter jogado bem como calouro e um Travis Kelce querendo deixar boa impressão naquela que pode ser sua última temporada, e temos um ataque capaz de produzir em alto nível pelo ar.
Entendam, Mahomes não passou das 4000 jardas somente em 2024, em 7 anos como titular, e ainda assim muito pelos motivos citados. Não há motivos que possam apontar para um declínio do melhor quarterback em atividade e essa linha está um tanto quanto pessimista.
A última chance de Jones
A NFL é uma liga cruel e a máxima de “o tempo não para” vale muito na liga. Num nível de jogo tão elevado, a capacidade atlética é fator fundamental para se ter sucesso. Tal qual na vida, com a idade avançando, ela tende a diminuir. Entenda, por mais que se treine muito, atletas mais jovens vão ter a vantagem natural no campo físico. O que resta? Se manter saudável, numa boa condição e usar a experiência técnica para conseguir sobrepujar o obstáculo natural.
É nisso que Chris Jones apostará para tentar vencer o prêmio de defensor do ano. Chegando para a temporada de 2025 com 31 anos — onde o declínio normalmente começa —, dificilmente ele terá uma chance posterior. Não que ele não tenha feito por merecer o prêmio em outros anos, mas o azar — sim, essa palavra mesmo — o acompanhou. O fato de ser contemporâneo de Aaron Donald sempre o relegou a “príncipe” da posição, já que o rei estava estabelecido.
Olhemos para seus dois melhores anos na liga, começando por 2018, quando ele teve 15 sacks. Essa é uma marca que coloca qualquer jogador de miolo da linha defensiva em condições de competir pelo prêmio… exceto quando se tem um Aaron Donald batendo 20 no mesmo ano!
Já em 2022, Donald não teve um super ano, então a vida de Jones com seus 15 sacks estava facilitada, certo? Errado. Nick Bosa explodiu e, convenhamos, que um EDGE como o jogador de San Francisco tem muito mais apelo midiático. Bosa levou o prêmio com 98% dos votos, deixando Jones na saudade. Em 2025, as odds não estão a seu favor, mas não sou eu que vou duvidar de um dos maiores defensores de sua era, faminto naquela que pode ser a última chance de eternizar seu nome.
Myles Garrett | Micah Parsons | T.J. Watt | Maxx Crosby | Chris Jones |
Nem tanto ao céu, nem tanto ao inferno
Que o otimismo em relação aos Chiefs está abaixo dos demais anos, fica muito evidente. Além de tudo que já foi citado, existe um sentimento de fim de ciclo, com algumas peças começando a declinar naturalmente. Vale lembrar que o New England Patriots passou 10 anos sem vencer o Super Bowl após vencer o terceiro em 4 anos no começo do século.
Contudo, olhando para o lado meio cheio da mesma história, nesse período, ainda assim, os Patriots chegaram a 2 Super Bowls, outras 3 finais de conferência, venceram sua divisão 8 vezes e Tom Brady levantou o prêmio de MVP em 2007 e 2010.
Simplesmente olhar para números e reduzir a pó as esperanças de coisas boas num time que tem tantos nomes históricos é quase insanidade. Pode parecer perto do fim, mas jogadores e treinadores especiais são chamados assim justamente por contrariar lógicas e prognósticos. Reid, Mahomes, Kelce, Jones… todos eles podem ser enquadrados na categoria dos fora de série. Não se espante se, no dia 8 de fevereiro de 2026, você ver todos esses nomes entrando em campo no Super Bowl LX: contrariar o normal e o natural é especialidade desse Kansas City Chiefs.
